Meu pai
guardava aquela garrafa de vinho há anos. Dizia que era para
celebrar um acontecimento especial que estava por vir.
Esperei
pelo momento, que não chegou enquanto meu pai vivia ao meu lado, e
logo que ele partiu, tive vontade de pegar o saca-rolhas e provar do
líquido que meu pai dizia ser a melhor bebida já produzida.
Meu
irmão, dois anos mais velho que eu, uma semana depois da morte de
meu pai, fez-me prometer que só abriríamos a garrafa com o
consentimento do outro.
Uma
semana depois do nosso acordo, sonhei com meu pai. No sonho, ele me
autorizava a abrir a garrafa de vinho.
Logo que
acordei, peguei a garrafa e corri para a sala. Esperei meu irmão
acordar e quando ele se aproximou de mim, falei rapidamente:
- Ele me disse que podemos abri-la.
- Sim, podemos. Ele também me disse.
Meu
irmão pegou o saca-rolhas, eu fui pegar duas taças.
Havia
belas taças em nossa casa, no entanto não foi difícil escolher o
par de mais belas.
- Perfeito! - disse meu irmão, a garrafa já não mais estava selada.
Enfim
provaríamos o vinho pelo qual tanto ansiávamos.
- Que merda! - esbravejou meu irmão ao perceber que não conseguia deitar o vinho nas taças.
- Me passa aqui!
Também
não consegui fazer com que o vinho entrasse na taça.
Decidimos
pegar outras taças e aconteceu a mesma coisa. Não entendíamos por
que aquilo acontecia. Mais da metade da garrafa de vinho estava no
tapete e nós ainda não havíamos provado uma gota sequer.
- O que é isso? - perguntei a meu irmão ao vê-lo se aproximar com dois copos dos mais vagabundos que tínhamos em casa.
- Já tentamos com todas as taças, vamos tentar com copos.
- Está louco? Um vinho desses ser bebido em copos tão simples!
- Custa tentar?
Divino!
Até hoje busco um sabor que se aproxime ao daquele vinho.