domingo, 17 de março de 2013

À SIMPLICIDADE



Meu pai guardava aquela garrafa de vinho há anos. Dizia que era para celebrar um acontecimento especial que estava por vir.
Esperei pelo momento, que não chegou enquanto meu pai vivia ao meu lado, e logo que ele partiu, tive vontade de pegar o saca-rolhas e provar do líquido que meu pai dizia ser a melhor bebida já produzida.
Meu irmão, dois anos mais velho que eu, uma semana depois da morte de meu pai, fez-me prometer que só abriríamos a garrafa com o consentimento do outro.
Uma semana depois do nosso acordo, sonhei com meu pai. No sonho, ele me autorizava a abrir a garrafa de vinho.
Logo que acordei, peguei a garrafa e corri para a sala. Esperei meu irmão acordar e quando ele se aproximou de mim, falei rapidamente:
  • Ele me disse que podemos abri-la.
  • Sim, podemos. Ele também me disse.
Meu irmão pegou o saca-rolhas, eu fui pegar duas taças.
Havia belas taças em nossa casa, no entanto não foi difícil escolher o par de mais belas.
  • Perfeito! - disse meu irmão, a garrafa já não mais estava selada.
Enfim provaríamos o vinho pelo qual tanto ansiávamos.
  • Que merda! - esbravejou meu irmão ao perceber que não conseguia deitar o vinho nas taças.
  • Me passa aqui!
Também não consegui fazer com que o vinho entrasse na taça.
Decidimos pegar outras taças e aconteceu a mesma coisa. Não entendíamos por que aquilo acontecia. Mais da metade da garrafa de vinho estava no tapete e nós ainda não havíamos provado uma gota sequer.
  • O que é isso? - perguntei a meu irmão ao vê-lo se aproximar com dois copos dos mais vagabundos que tínhamos em casa.
  • Já tentamos com todas as taças, vamos tentar com copos.
  • Está louco? Um vinho desses ser bebido em copos tão simples!
  • Custa tentar?
Divino! Até hoje busco um sabor que se aproxime ao daquele vinho.