quinta-feira, 10 de novembro de 2011

PASTEL DE FEIRA

      A feira que mais gosto é a da vila Fátima, às quintas, final de tarde. A barraca fica em frente à igreja de Nossa Senhora de Fátima, igrejinha pequena; a rua São Paulo vem, divide-se, contorna a igreja e vinte metros depois se junta, nunca entendi o porquê daquela pequena igreja ilha, também não me interessa, nem católica sou e, além do mais, não é por causa da capela que aquela é minha feira predileta.
     É o meu momento durante a semana, só meu, ele chega pouco antes das seis, deve trabalhar até cinco e meia, vem direto do trabalho, usa sempre uma camisa azul e calças pretas, é uniforme, isso eu sei, só não sei onde trabalha, nenhum bordado, nenhum crachá, nenhum amigo, pouco fala.
     Sou eu quem sempre o atende, há um pacto silencioso entre eu e as outras meninas, não combinamos nada, mas Cibele atende o japonês loiro, Kátia atende o santista, eu, meu moreno que veste azul. Sei o que ele vai pedir, primeiro um pastel de carne seca com abóbora, minha mãe dizia que este vegetal faz sorrir, talvez seja por isso que ele tenha um sorriso tão lindo, vou começar a comer mais abóbora. Depois, enquanto espera pelo pastel pede uma garapa; garapa, todos falam caldo de cana, ele não, esta palavra fica tão bonita quando dita por ele, soa tão gostoso, tão perverso, parece chamar-me... ga-ra-pa... Meu Deus! Tenho que parar de pensar nisso, sou moça decente. O segundo pastel que ele pede é de broto de bambu, imagino o bambu sendo mordido por ele, aquele crék que faz. Ah! Se fossem meus... Isabela! Que pensamentos são esses? Vou tomar outro banho gelado esta noite... Uma mordida no pastel. Ah! Se o pastel fosse de broto de paixão em vez de bambu. O que estou dizendo?... Um gole de garapa, o líquido descendo pela garganta... Daria minha vida para ser um pastel, um não, o pastel, para ser apenas um gole daquela garapa... Quero sentir aqueles dentes, passar por aquela língua, descer por aquela garganta, quero... Meu Deus! Preciso de um banho gelado.
     Na quinta-feira passada ele perguntou meu nome, daqui a pouco ele chega, o que perguntará hoje?
     Ouço Cibele gritar que não tem mais pastel de broto de bambu. Ainda bem que eu deixei um escondido, sempre escondo o que é importante.
     Lá vem ele, que calor! Meu Deus! Preciso urgentemente de um banho gelado!

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