sábado, 9 de novembro de 2013

O METALEIRO

– Você já viu aquele vizinho novo?
– Aquele que mora no térreo!
– Que cara esquisito! Vi hoje pela primeira vez.
– Não, eu nunca tinha visto... Só ouvia a bagunça dele.
– É, ele é menos barulhento que a piriguete que morava lá, mas...
– Sim, eu sei, já estou até arrependida de ter feito ela ser expulsa do prédio. Era bem melhor ver aquele monte de homens entrando e saindo do que ouvir essas músicas do satanás.
– Como ele é? Cheio de tatuagens. Cabeludo. Se fosse mulher, aquele cabelo ficaria lindo, mas homem com um cabelo daqueles! Tem mais, Otirípse, roupa toda preta e na camiseta o desenho de uma caveira.
– Não sei a diferença entre caveira e zumbi, mas é verdade, tinha cabelo e usava roupa. Acho que ele não sai do cemitério.
– Otirípse! Pode ser que ele seja daquelas religiões que matam e fazer sacrifício com os órgãos. Precisamos fazer alguma coisa!
– Agora entendo tudo! Agora entendo! Por isso que ele foi tão generoso comigo quando cheguei. Eu carregava duas sacolas, ele disse bom dia, nem respondi, mesmo assim teve a coragem de abrir a porta do elevador para mim. Fiz de conta que nem vi. Não dou confiança. Se faz de santo só para me conquistar. Ele quer meus órgãos. Conheço essa raça! Não me enrolam! Conheço bem!
– Precisamos dar um jeito dele sair daqui!
– A Jasmine disse que ele é professor. Professor? No meu tempo, professor ensinava, não andava dando mau exemplo. Professor cabeludo não pode. Professor tem que ouvir música clássica, não gritaria. Por isso que o Bruninho andava ouvindo essa porcaria de metal. Professor que ouve isso é má influência.
– Sim, Otirípse, o nosso neto, o Bruninho, se a gente não cuida, logo quer fazer tatuagem, colocar “pice”.
– Meu Deus! O que é isso? Vou chamar a polícia!
– Como não é nada demais? Olhe lá! Está com as crianças!
– Brincando? Sei!
– Como assim sem maldade? Não vê! Conquistando os pequenos para tirar proveito. Meu Deus! Se for um pedófilo! Vou chamar a polícia! Esse criminoso não pode andar solto por aí!
– Essa historinha de brincar sem maldade não existe!
– Alô! É da polícia!


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