A feira de que mais gosto é a da vila Fátima, às quintas,
final de tarde. A barraca fica em frente à igreja de Nossa Senhora de Fátima,
igrejinha pequena; a rua São Paulo vem, divide-se, contorna a igreja e vinte
metros depois se junta, nunca entendi o porquê daquela pequena igreja-ilha,
também não me interessa, nem católica sou, e, além do mais, não é por causa da
capela que aquela é minha feira predileta.
É o meu momento durante a semana. Só
meu. Ele chega pouco antes das seis, deve trabalhar até cinco e meia. Vem
direto do trabalho. Usa sempre uma camisa azul e calças pretas. É uniforme,
isso eu sei, só não sei onde trabalha.
Nenhum bordado, nenhum crachá, nenhum amigo. Pouco fala.
Sou eu quem sempre o atende. Há um pacto
silencioso entre mim e as outras meninas. Não combinamos nada, mas Cibele
atende o japonês loiro, Kátia atende o santista com cabelo Neymar, eu, meu
moreno que veste azul. Sei o que ele vai pedir, primeiro um pastel de carne
seca com abóbora. Minha mãe dizia que este vegetal faz sorrir, talvez seja por
isso que ele tenha um sorriso tão lindo... Vou começar a comer mais abóbora.
Depois, enquanto espera pelo pastel pede uma garapa; garapa, todos falam caldo
de cana, ele não, e esta palavra fica tão bonita quando dita por ele, soa tão
gostoso, tão perverso, parece me chamar... ga-ra-pa... Meu Deus! Tenho que
parar de pensar nisso, sou moça decente. O segundo pastel que ele pede é de
broto de bambu, imagino o bambu sendo mordido por ele, aquele crék que faz. Ah!
Se fossem meus... Isabela! Que pensamentos são esses? Vou tomar outro banho
gelado nesta noite... Uma mordida no pastel. Ah! Se o pastel fosse de broto de
outra coisa que não bambu! O que estou dizendo?... Um gole de garapa, o líquido
descendo pela garganta... Daria minha vida para ser o pastel, para ser apenas
um gole daquela garapa... Quero sentir aqueles dentes, passar por aquela
língua, descer por aquela garganta, quero... Meu Deus! Preciso de um banho
gelado.
Na quinta-feira passada ele perguntou
meu nome, daqui a pouco ele chega, o que perguntará hoje?
Ouço Cibele gritar que não tem mais
pastel de broto de bambu. Ainda bem que eu deixei um escondido. Sempre escondo
o que é importante.
Lá vem ele! Que calor! Meu Deus!
Preciso urgentemente de um banho gelado!
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