domingo, 18 de dezembro de 2011

O SALVADOR


     Atravessou a rua correndo, levou buzinada, por pouco não foi atropelado. Ofegante, acenava e gritava. Não deu tempo. Perdeu o ônibus.
     - Motorista filho-da-puta, custava esperar quinze segundos?
Colocou as mãos na cintura e ficou a olhar indignado o coletivo que se afastava.
O caminhão ainda tentou frear, mas foi em vão, acertou o ônibus em cheio. Tombou.
     - Cara, que sorte!
     - Sorte?
     - Sim, eu vi tudo, era pra cê tá lá no ônibus, cê poderia tá morto agora.
     - E você sabe se alguém morreu?
     - Não tá feliz? Cê escapô de uma boa, no mínimo taria bem machucado, deve agradecê a Deus.
     - Agradecer por quê? Perdi o ônibus.
     - Como agradecê pur quê? Perdeu o ônibus, mas tá intero, isso é obra divina. 
     - Preferia não ter perdido o ônibus, agora vou chegar atrasado no trabalho.
     - Cara! Pelo amor de Deus! Agradeça. Deus te livrô do acidente.
     - Que me livrou do acidente o quê? Se o motorista tivesse parado, perderia segundos suficientes para que o caminhão não o pegasse. Eu é que o salvaria, ele e todos os passageiros.

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