Qual o maior desejo de um simples escritor? Ter um texto publicado entre os maiores nomes da literatura nacional. Olha o que achei hoje Nesta antologia estão nomes como Machado de Assis, Oswald de Andrade, Mario Quintana, Murilo Mendes, Olavo Bilac, Casimiro de Abreu, Guilherme de Almeida, Manuel Bandeira... e eu. Isso mesmo, Sidclei Nagasawa Costa entre esses monstros da literatura brasileira. Como estou feliz! Agora já posso morrer! Ops! Nem tanto! Mas que tive um orgasmo literário inigualável agora, ah! isso eu tive.
sábado, 14 de dezembro de 2013
terça-feira, 10 de dezembro de 2013
COMPAIXÃO (TERMINAL GUADALUPE)
Novamente
não teria bolo. A vida é o presente.
A cadela soltou o ser estranho ali mesmo, na esquina da João Negrão
com a Pedro Ivo. Cheirou-o. Lambeu-o. Caminhou um pouco e se deitou.
O terminal estava lotado. Hora de ir para o trabalho. O povo correu
para perto do filhote. Carros desviavam. Palpitavam solidários com a
cadela.
- É meu!
- Não, eu vi primeiro!
- É tão lindinho!
A cadela pariu mais três. Cheirou-os. Lambeu-os. Saiu caminhando.
Logo houve confusão. Pais e mães demais para quatro filhos. Lares
de sobra.
No orfanato São Francisco Xavier, Carlinhos comia pão com
margarina e tomava café com leite. Completava dez anos de vida e que
fora deixado em um latão na Tibagi.
sexta-feira, 29 de novembro de 2013
sexta-feira, 22 de novembro de 2013
OFICINA DE CRIAÇÃO LITERÁRIA
Hoje realizei uma oficina de Criação Literária no FLIC - Festival Literário de Cascavel. Participaram alguns alunos e professores de Cascavel e Três Barras. Surpreendi-me positivamente com as análises e textos dos participantes. Enquanto a literatura continuar me surpreendendo é porque vale a pena continuar.
quarta-feira, 20 de novembro de 2013
sábado, 9 de novembro de 2013
O METALEIRO
– Você já viu aquele
vizinho novo?
– Aquele que mora no
térreo!
– Que cara esquisito!
Vi hoje pela primeira vez.
– Não, eu nunca tinha
visto... Só ouvia a bagunça dele.
– É, ele é menos
barulhento que a piriguete que morava lá, mas...
– Sim, eu sei, já
estou até arrependida de ter feito ela ser expulsa do prédio. Era
bem melhor ver aquele monte de homens entrando e saindo do que ouvir
essas músicas do satanás.
– Como ele é? Cheio
de tatuagens. Cabeludo. Se fosse mulher, aquele cabelo ficaria lindo,
mas homem com um cabelo daqueles! Tem mais, Otirípse, roupa toda
preta e na camiseta o desenho de uma caveira.
– Não sei a diferença
entre caveira e zumbi, mas é verdade, tinha cabelo e usava roupa.
Acho que ele não sai do cemitério.
– Otirípse! Pode ser
que ele seja daquelas religiões que matam e fazer sacrifício com os
órgãos. Precisamos fazer alguma coisa!
– Agora entendo tudo!
Agora entendo! Por isso que ele foi tão generoso comigo quando
cheguei. Eu carregava duas sacolas, ele disse bom dia, nem respondi,
mesmo assim teve a coragem de abrir a porta do elevador para mim. Fiz
de conta que nem vi. Não dou confiança. Se faz de santo só para me
conquistar. Ele quer meus órgãos. Conheço essa raça! Não me
enrolam! Conheço bem!
– Precisamos dar um
jeito dele sair daqui!
– A Jasmine disse que
ele é professor. Professor? No meu tempo, professor ensinava, não
andava dando mau exemplo. Professor cabeludo não pode. Professor tem
que ouvir música clássica, não gritaria. Por isso que o Bruninho
andava ouvindo essa porcaria de metal. Professor que ouve isso é má
influência.
– Sim, Otirípse, o
nosso neto, o Bruninho, se a gente não cuida, logo quer fazer
tatuagem, colocar “pice”.
– Meu Deus! O que é
isso? Vou chamar a polícia!
– Como não é nada
demais? Olhe lá! Está com as crianças!
– Brincando? Sei!
– Como assim sem
maldade? Não vê! Conquistando os pequenos para tirar proveito. Meu
Deus! Se for um pedófilo! Vou chamar a polícia! Esse criminoso não
pode andar solto por aí!
– Essa historinha de
brincar sem maldade não existe!
– Alô! É da polícia!
sexta-feira, 1 de novembro de 2013
A PRIMEIRA VEZ A GENTE LOGO ESQUECE
Sempre ouvi falar que
doía. Alguns dizem que chegam a chorar de dor. Antes, não achava
necessário fazer, mas resolvi experimentar. “Que seja o que Deus
quiser!”
Fui chamado para uma
salinha lá no fundo. “Por que tão lá no fundo?”
– Preciso tirar a
camisa? – perguntei.
– Sim.
Deitei-me onde a mulher
me indicou.
– De barriga para
baixo?
– Sim.
A mulher pareceu-me uma
grande profissional, por isso me senti bem relaxado. Deitei e fiquei
esperando.
– Pode abaixar um
pouco mais o calção?
Bom, se é pra fazer,
que seja bem-feito. Pode abaixar.
Cuidadosamente, ela fez
o que havia pedido para eu fazer.
E eu lá, bunda de fora.
Totalmente inofensivo. Pensei: “Agora vai!”
E foi! Um puxão, dois
puxões, vários puxões. E passa algo lá atrás e mais alguns
puxões. Dor? Dor nenhuma. Até estava gostoso, uns beliscõezinhos
que pareciam massagem. Como eu queria que aquilo continuasse por mais
tempo. Troço gostoso esse de se depilar.
Ah! Esqueci de comentar
que minha esposa entrou junto. Acho que ela queria me ver gritando,
olhar nos meus olhos e dizer:
– Tá vendo! Pensa
que é fácil ser mulher!
Bom, tenho que admitir
que entrei lá decidido a não transparecer o sofrimento, mas que
sofrimento? Não teve sofrimento algum, amei essa tal de depilação.
– Doeu, amor? –
perguntou-me quando terminou.
– Um pouquinho!
– Viu como não é
fácil?
– Sim, agora entendo o
que vocês passam!
– Vai querer fazer
novamente?
– Se você me pedir,
faço! Qualquer sofrimento vale a pena para ficar mais bonito para
você.
domingo, 6 de outubro de 2013
A MORTE DA MANHÃ
A manhã
Toda
Pôs-se a preguiçar
Quando chegou
A tarde
Nem percebeu
E morreu
Sem despertar
Toda
Pôs-se a preguiçar
Quando chegou
A tarde
Nem percebeu
E morreu
Sem despertar
quarta-feira, 14 de agosto de 2013
quarta-feira, 7 de agosto de 2013
INSÔNIA
Nem
sonho dormir cedo
estás
sempre a me querer
fazes-me
rolar no colchão
buscar
diferente posição
e
para o teu deleite
só
durmo
após
deixar meu leite
in
Sônia.
sexta-feira, 3 de maio de 2013
PRÊMIO CATARATAS DE LITERATURA 2011/12 E 2012/13.
Receber o prêmio Cataratas de Literatura por dois anos consecutivos foi espetacular. Em 2012, quem me acompanhou na festa foi meu filho Gabriel Henrique. Em 2013, foi a Márcia Fontanella.
FLOR E SENDO
Eu flor e serei
Tu flor e serás
Ele flor e será
Nós flor e seremos
Vós flor e sereis
Eles flor e serão.
quarta-feira, 24 de abril de 2013
domingo, 17 de março de 2013
À SIMPLICIDADE
Meu pai
guardava aquela garrafa de vinho há anos. Dizia que era para
celebrar um acontecimento especial que estava por vir.
Esperei
pelo momento, que não chegou enquanto meu pai vivia ao meu lado, e
logo que ele partiu, tive vontade de pegar o saca-rolhas e provar do
líquido que meu pai dizia ser a melhor bebida já produzida.
Meu
irmão, dois anos mais velho que eu, uma semana depois da morte de
meu pai, fez-me prometer que só abriríamos a garrafa com o
consentimento do outro.
Uma
semana depois do nosso acordo, sonhei com meu pai. No sonho, ele me
autorizava a abrir a garrafa de vinho.
Logo que
acordei, peguei a garrafa e corri para a sala. Esperei meu irmão
acordar e quando ele se aproximou de mim, falei rapidamente:
- Ele me disse que podemos abri-la.
- Sim, podemos. Ele também me disse.
Meu
irmão pegou o saca-rolhas, eu fui pegar duas taças.
Havia
belas taças em nossa casa, no entanto não foi difícil escolher o
par de mais belas.
- Perfeito! - disse meu irmão, a garrafa já não mais estava selada.
Enfim
provaríamos o vinho pelo qual tanto ansiávamos.
- Que merda! - esbravejou meu irmão ao perceber que não conseguia deitar o vinho nas taças.
- Me passa aqui!
Também
não consegui fazer com que o vinho entrasse na taça.
Decidimos
pegar outras taças e aconteceu a mesma coisa. Não entendíamos por
que aquilo acontecia. Mais da metade da garrafa de vinho estava no
tapete e nós ainda não havíamos provado uma gota sequer.
- O que é isso? - perguntei a meu irmão ao vê-lo se aproximar com dois copos dos mais vagabundos que tínhamos em casa.
- Já tentamos com todas as taças, vamos tentar com copos.
- Está louco? Um vinho desses ser bebido em copos tão simples!
- Custa tentar?
Divino!
Até hoje busco um sabor que se aproxime ao daquele vinho.
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
PAMONHAS DE PIRACICABA
Caminhava tranquilamente pela
rua XV de Novembro quando cruzei com um senhor já bem idoso
cantarolando uma antiga música caipira que eu tinha ouvido pela
última vez há uns vinte anos. Entrei em uma loja de calçados
chamada “Magic” e fui atendido por uma simpaticíssima moça
chamada Paula.
A vendedora trouxe-me o sapato
que eu escolhera, no número que eu solicitara, fazia tudo exatamente
do jeito que eu queria, e quando eu provava o calçado, ela olhou-me
com aquele jeito meigo e me disse:
- Se apertá no carcanhá e só
falá que vou trocá.
Depois de me ter dito aquelas
palavras, o sapato poderia ter apertado no peito do pé, no dedão do
pé, no coração do pé, que eu o levaria de qualquer jeito, para
ser sincero, se ela tivesse me oferecido mais uns três ou quatro
pares, eu pagava por eles, mas ela não faria isso, ela não usaria
do poder que ela certamente sabia que exercia sobre mim para me fazer
comprar algo que eu não precisasse. Ela era honesta demais para
isso.
Deixei a loja com uma vontade
imensa de comer algo que eu sequer me lembrava que gostava, mas que
todos aqueles acontecimentos me fizeram sentir como se eu a mordesse:
amarela como ouro, meus dentes sentiam necessidade de destroçá-la,
minha boca era só desejo, não havia como negar, mas onde, naquela
hora, eu poderia encontrá-la.
Quase não acreditei quando
meus ouvidos captaram aquele som. Era sorte demais para um só dia.
Parei de caminhar, olhei para a direção de onde vinha o som. Uma
Kombi anunciava:
- Pamonhas, pamonhas,
pamonhas. Pamonhas de Piracicaba.
Acenei para o carro que
prontamente parou.
- Essas pamonhas são boas
mesmo? – perguntei.
- São especiais. Não tem
erro, pode comprar sem medo. São legítimas pamonhas de Piracicaba.
Como minha vontade de comer
pamonhas era imensa, comprei logo três, acreditando que fossem mesmo
de Piracicaba, embora o vendedor eu constatasse que não fosse de lá.
Mais duas quadras de caminhada
e estava em casa. Só aguentei esperar porque já estava muito perto.
Olhei então para aquele pacotinho embrulhado com palha verde de
milho e o desembrulhei como uma criança que abria o seu tão
esperado presente de natal, porém sequer dei tempo de meus olhos
admirarem o meu tesouro, meu desejo era maior que estes pequenos
prazeres do meio do caminho. Minha boca se abriu e em uma só dentada
arrancou quase a metade da pamonha.
Não sei explicar qual foi o
meu sentimento naquele instante, mas posso afirmar que deu muito
trabalho para limpar o sofá e levou certo tempo para eu conseguir
tirar aquele gosto da boca.
Pamonha de Piracicaba! Só se
a mãe dele se chamar Piracicaba.
Terminei o ontem no sofá,
chorando sozinho. Tudo o que me acontecera, fizera-me lembrar de
Serma – escrito desta forma mesmo -. Na verdade, nem sei mais se
chorei por ela, se chorei pela cidade dela ou se chorei por tudo
estar tão diferente.
Duas décadas e alguns anos
atrás fui passar minhas férias no interior. Tinha catorze para
quinze anos, não era a minha primeira vez naquela cidade, mas foi a
que marcou minha vida.
Em meu primeiro domingo na
cidade, meus primos me levaram para eu conhecer o que seria a minha
primeira paixão piracicabana, o Nhô Quim. O jogo era XV de Novembro
de Piracicaba X Corinthians. O meu timão que tinha Neto, Ronaldo e
Tupãzinho não suportou a força do Nhô Quim que venceu por 2 X 0,
entrei no Barão gambá e saí torcendo para o alvinegro
piracicabano.
E não era só gambá, podia
vir bambi, sardinha, porco que lá no Barão quem mandava era o XV.
É, quem mandava, porque o grande XV de Novembro de Piracicaba só é
forte hoje na memória de seus torcedores.
Meu primeiro porre, porre
mesmo, de não me lembrar do que fiz, foi durante aquelas férias. A
última cena de que me lembro foi: Eu e meus primos abraçados,
fedidos, sujos, sem motivo algum para esboçar um sorriso, cantando
“O riiio de Piracicaaaba vai joooogá aguá prá fora, quaaaando
chegá a água dos zóóóóios de arguém que chora”. Será que
ainda existe rio em Piracicaba?
O basquete feminino brasileiro
era um dos melhores do mundo naquela época, e havia a rivalidade
Piracicaba X Sorocaba. Deus me livre perder para aquele povo caipira
de Sorocaba, os sorocabanos pensavam a mesma coisa, eles tinham a
rainha deles, Hortência, nós, uma mulher que não jogava, fazia
mágica, “Magic Paula”. O ginásio lotava e íamos ao delírio
com a Paula, a melhor jogadora de basquete que o Brasil já teve
jogava lá em Piracicaba. Bom, hoje jogando em Piracicaba tem... é
melhor deixar pra lá.
Será que aquelas férias não
aconteceram de verdade? Ou foram algumas sementinhas que encontraram
terreno fértil em minha imaginação e desenvolveram-se
esplendorosamente?
Será que nunca existiu esse
time de futebol em Piracicaba que fazia os grandes pensar que um
empate no Barão seria vitória?
Devo acreditar que o rio de
Piracicaba nunca foi homenageado na música brasileira?
Quando vi Fidel brincar
dizendo que não entregaria a medalha de ouro àquela jogadora que
havia arrasado a defesa da seleção cubana de basquete feminino no
Pan de Havana, teria eu sonhado que ela jogava em Piracicaba?
Já não sei mais o que é
ilusão, talvez o mundo todo seja uma ilusão, ou uma pamonha. Sim,
porque também me recordo do sabor das pamonhas que comi naquelas
férias. E hoje, tudo o que ouço sobre Piracicaba é a famosa frase:
“Pamonhas de Piracicaba”. Todo mundo faz pamonha de Piracicaba,
por que não saem anunciando: “Pamonhas de Campinas”, “Pamonhas
de Jundiaí”, “Pamonhas de Araraquara”. Chega de nos enganar.
Eu quero uma legítima pamonha de Piracicaba! Se é que ela ainda
existe.
Ia terminar este texto, mas me
lembrei de Serma, ela foi o motivo principal de eu escrevê-lo. Não,
acho que não foi, mas mesmo assim vou falar dela.
Eu a conheci no meu último
dia daquelas férias, avistei-a de longe e ela era tão linda,
cheguei bem próximo dela e galanteei:
- Sua boca deve ter um sabor
incomparável, adoraria prová-la.
Ela respondeu-me com um
jeitinho tão sincero, tão simples:
- Qué prová, se num gostá e
só falá que vou melhorá.
Provei e nunca mais esqueci.
Passei quase um ano esperando pelas próximas férias e logo que
voltei à casa do meu tio, fui correndo procurá-la. Para minha
tristeza, ela havia falecido.
Por isso não sei mais o que
foi realidade, o que foi ilusão, embora eu tenha vivido tudo isso
intensamente. Entristecer-me-ia muito saber que nunca aconteceu nada
disso, que nunca existiu Serma alguma, que Piracicaba é uma cidade
que eu inventei, que ninguém sabe o que é uma pamonha e talvez até
que eu tenha saído da mente de algum escritor maluco. Pensando
bem...
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